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Adriana Arruda - Publicado em 25-05-2021 17:20
Desenvolvimento de satélite traz destaque ao Brasil em pesquisa espacial
Debate abordou tecnologia de ponta e ensino em satélites (Imagem: Reprodução YouTube)
Debate abordou tecnologia de ponta e ensino em satélites (Imagem: Reprodução YouTube)
No dia 20 de maio, ocorreu o terceiro encontro da série de eventos "Ciência UFSCar", que trouxe, nesta edição, o tema "Satélites brasileiros: de Cubesats ao Amazônia 1". O debate, virtual, teve a participação de Adenilson Roberto da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coordenador da Missão Amazônia, e Paulo Roberto Braga Barros, Diretor de Gestão de Portfólio da Agência Espacial Brasileira (AEB), ambas instituições vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Da UFSCar, participaram Rafael Vidal Aroca, docente do Departamento de Computação (DC) e coordenador da Olimpíada Brasileira de Satélites, também uma iniciativa do MCTI; e Mariano Eduardo Moreno, docente do Departamento de Engenharia Mecânica (DMec).

Na ocasião, o foco esteve no Amazônia 1, primeiro satélite de observação da Terra completamente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil. Iniciada há quase 20 anos, a iniciativa inclui o Brasil no seleto grupo de países que dominam o ciclo completo de desenvolvimento de satélites.

Em suas falas, Barros e Silva relembraram o início da história dos satélites no Brasil, chegando até o Amazônia 1. "Ele surgiu como se fosse uma folha de papel em branco: a equipe criou todo o projeto do zero e contou com a participação da indústria nacional. Entre avanços e desafios, houve o intuito de produzir tecnologia e conhecimento", sintetizou Silva.

Após muitos anos de pesquisas e testes, ocorreu, em 28 de fevereiro de 2021, o lançamento do satélite, na Índia. Entre os seus benefícios e aplicabilidades, os pesquisadores destacaram o monitoramento ambiental, permitindo, por exemplo, controle do desmatamento, além de validação da chamada Plataforma Multimissão (PMM), que consiste em um módulo do Amazônia 1 que servirá de base para projetos futuros.

Ao caracterizar o Amazônia 1, Silva relatou que ele pesa 640 quilos, tem 2,5 metros de altura e opera a 752 quilômetros de altitude, além de voar em uma velocidade aproximada de 7,5 quilômetros por segundo, completando uma volta na Terra a cada 100 minutos. 

Desses 100 minutos, 65 ele fica na parte iluminada, com temperatura em torno de 95 graus, e 35 minutos na parte escura, na sombra da Terra, com temperatura a -95. Ou seja, ao longo do percurso, há uma variação de quase 200 graus de temperatura. 

Diante dessas características, a tecnologia supera vários desafios. "É preciso garantir que o satélite não quebre, que suporte variações térmicas e que tolere o ambiente espacial, associado à radiação. É um processo longo e custoso, tanto em tempo como em recursos", analisou Silva.

Barros, da AEB, enfatizou que o foco em Ciência e Tecnologia é fundamental para as perspectivas futuras dos satélites, citando uma série de projetos em andamento, que são realizados em parceria com diversas universidades, em vários estados do País. "Estamos sempre analisando novas tecnologias e tentando adaptá-las aos satélites, de acordo com suas peculiaridades", registrou.

A tecnologia de ponta do Amazônia 1 envolve, entre outros aparatos tecnológicos, câmeras de alta resolução, conforme explicou Moreno, docente da UFSCar, que destacou suas experiências na Opto (empresa de base tecnológica situada em São Carlos) e detalhou, assim, as características e especificidades técnicas dessas câmeras.

"A equipe da empresa que trabalha com câmeras para satélites geralmente envolve profissionais de diversas áreas do conhecimento, como Física e Engenharias - Mecânica, de Materiais e de Produção, por exemplo -, o que mostra a importância da multidisciplinaridade para um bom funcionamento dessas tecnologias, com pessoas trabalhando em sincronia", detalhou Moreno. "Muitas vezes, a solução técnica de um problema - como algum que envolva a temperatura, por exemplo - acaba gerando outros, de condição estrutural, no nosso exemplo. Precisamos pensar em soluções que não atrapalhem o todo", exemplificou. 

Além de abordar a tecnologia de ponta na área de satélites, o encontro explorou o seu potencial na Educação, a partir do exemplo da primeira edição da Olimpíada Brasileira de Satélites que, segundo Aroca, é uma oportunidade para estudantes e professores dos ensinos Médio, Técnico e Superior adquirirem e compartilharem experiências teóricas e práticas em projetos de satélite. "Iniciativas como essa visam construir conhecimentos e despertar talentos na área desde cedo", complementou o docente da UFSCar.

O "Ciência UFSCar" contou com cobertura ao vivo no Twitter @ciencia_ufscar, e o debate, gravado, está disponível nos canais da UFSCar no YouTube e no Facebook. Sugestões de temas para próximos encontros podem ser encaminhadas ao e-mail culturacientifica@ufscar.br.

A iniciativa, promovida pela Assessoria de Comunicação Científica da UFSCar, tem o intuito de democratizar o acesso ao conhecimento e colocá-lo em diálogo com outros saberes e com as principais demandas, desafios e problemas da sociedade.