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Gisele Bicaletto - Publicado em 06-07-2023 08:30
Superintendente do HU fala sobre febre maculosa
Carrapato-estrela pode transmitir a febre maculosa (Foto: Divulgação/PBH)
Carrapato-estrela pode transmitir a febre maculosa (Foto: Divulgação/PBH)
Diante da preocupação pelos casos de febre maculosa registrados no interior de São Paulo, o médico infectologista Fábio Fernandes Neves, superintendente do Hospital Universitário da UFSCar (HU-UFSCar) fala sobre prevenção, sintomas, tratamento e riscos do uso inadequado de antibióticos no combate à febre maculosa. Confira:

Há motivo para preocupação com a possibilidade de contaminação com febre maculosa nas cidades onde estão os campi da UFSCar?
Apesar do epicentro endêmico da febre maculosa no estado de São Paulo estar na zona rural de Campinas, os campi da UFSCar estão dentro da área de risco. Observando no mapa, podemos ver que São Carlos, Rio Claro, Araras, Buri e Sorocaba, são cidades que estão dentro da área de risco de se contrair a doença.

Como se evitar a febre maculosa?
A primeira recomendação é evitar a exposição ao carrapato. Se a pessoa puder evitar eventos, festas, aglomerados em área rural, nessas regiões endêmicas, seria muito interessante, visto que não existe vacina para essa doença. Caso não haja opção de deixar de ir ao evento ou frequentar esses locais, recomenda-se que, no trajeto, o veículo tenha suas janelas fechadas e, durante o deslocamento entre o veículo e o local do evento, a pessoa procure rotas com grama baixa ou calçamento, porque quanto maior a altura do mato, maior a chance de contato com o carrapato. Também é recomendável usar roupas longas, claras e sapatos fechados, além de repelentes, principalmente aqueles que são efetivos contra o carrapato estrela, à base da substância química icaridina. Outra medida preventiva seria estar sempre inspecionando a barra da calça. De preferência fechar o vão da barra da calça com alguma fita ou meia, e sempre estar observando essa região, porque o carrapato demora para subir e arrumar um local para se fixar na pele da pessoa, então, frequentemente ele fica alguns minutos ali exposto, sendo possível identificá-lo e retirá-lo. E, finalmente, não deitar e não sentar no gramado, diminuir a superfície de contato do corpo com o gramado.
Caso a pessoa encontre um carrapato no corpo, é importante reforçar que menos de 1% dos carrapatos estão contaminados com a Rickettsia rickettsii, bactéria causadora da doença. Mesmo que esse carrapato esteja contaminado, é necessário o período de alguns dias para que essa bactéria se desenvolva no carrapato e seja transferida para o ser humano. A recomendação, portanto, é tirar o carrapato, de preferência com uma pinça, sem esmagar o corpo ou queimar o carrapato, porque isso pode fazer com que haja refluxo de bactérias do carrapato para a pessoa, e fazer uma inspeção em todo o corpo, em área iluminada, para saber se tem outros focos de contaminação com o carrapato.

Como saber se é febre maculosa ou outra doença com sintomas parecidos?
Não é preciso iniciar o uso de antibiótico caso a pessoa detecte um carrapato no corpo. A chance de ter febre maculosa após a picada de um carrapato é remota. O importante é a pessoa ficar atenta aos sinais da doença: dor de cabeça, febre alta, mialgia, perda de apetite, manchas no corpo, principalmente em palmas e plantas das mãos e pés. Neste caso, é necessário que procure um médico, que vai colher exames complementares, sorologia, PCR, e vai fazer o diagnóstico. Por ser uma doença com sintomas muito inespecíficos, não é possível fazer um diagnóstico clínico com 100% de precisão. O médico necessita do auxílio de exames complementares.

Por que o "tratamento precoce" com o antibiótico não é indicado como prevenção, e só se inicia o tratamento quando aparecem os sintomas?
Acontece que a chance de você desenvolver febre maculosa após uma picada de carrapato é tão remota, que o risco de efeitos adversos do antibiótico mal indicado suplanta o benefício potencial preventivo de se evitar febre maculosa.
Eu gostaria de comentar que a febre maculosa é uma doença endêmica, que ocorre no Brasil há muitos anos. Ela se distribui por toda a América, da América do Norte à América do Sul, e tem um tratamento consagrado, efetivo contra ela, à base de antibiótico. É importante que esse tratamento seja iniciado logo após o surgimento dos primeiros sintomas. Quanto mais precocemente acontecer a instituição do tratamento, maior a chance de cura sem qualquer sequela. Então, diante de sintomas como febre, dor de cabeça, mialgia, perda de apetite, manchas no corpo, em pessoas que foram para atividade de risco, é muito importante que se procure precocemente a assistência à saúde.

Para assistir ao vídeo do Instituto da Cultura Científica (CC) da UFSCar sobre o tema, confira o Instagram e o Facebook da UFSCar.