Notícia

Marcílio José Sabino Lana - Publicado em 14-05-2024 00:15
Debate, bem humorado, sobre os fazeres e afazeres das Humanidades
Ilustração de Cesar Habert Paciornick/Le Monde Diplomatique Brasil
Ilustração de Cesar Habert Paciornick/Le Monde Diplomatique Brasil

Censurar informações, obras literárias e acadêmicas, peças de teatro, apresentações artísticas, performances e exposições. Estes são exemplos de episódios de violência contra a diversidade, contra a liberdade de pensamento e opinião, que orbitam a história da humanidade. 

Talvez o episódio mais categórico deste gênero tenha sido o bücherverbrennung, termo alemão para "queima de livros". Há 91 anos, também no mês de maio, poucos meses depois da ascensão de Adolf Hitler, começava a organização, em várias cidades alemãs, de queimas de livros em praças públicas, com a presença da polícia, bombeiros e outras autoridades.

O ataque é, por vezes, virulento, como o bücherverbrennung nazista. Mas a labareda pode não ser o resultado objetivo de uma combustão. Há outras formas, como aconteceu durante o governo Bolsonaro, de desacreditar a reflexão e o pensamento crítico. O desdém e a desqualificação das Humanidades, por exemplo, apontada, por alguns, como um conhecimento incapaz de habitar o campo das Ciências, são algumas dessas formas. 

"A cultura da experimentação e os debates sobre as minorias não são incomuns nos centros de educação, de ciências sociais, de filosofia e arte. Nesse sentido, um ataque às ciências humanas é grave não apenas porque promove uma vitória da moral sobre a política para favorecer o neoliberalismo, mas porque diminui aquilo que o mercado não pode comprar: a nossa humanidade", afirma Érico Andrade, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil.

Bem mais que miçangas
Provocadora é o adjetivo que podemos adicionar à iniciativa que a UFSCar leva, nesta quarta-feira (15/5), à Praça da XV, em São Carlos. A atividade integra a programação do Festival Pint of Science 2024. A jornalista e diretora do Instituto da Cultura Científica (ICC), Mariana Pezzo, medeia uma mesa redonda denominada "Além de miçangas, o que faz o povo das ciências humanas?". 

Mariana estará acompanhada por outros quatro colegas da UFSCar: Adelcio Camilo Machado, professor do Departamento de Artes e Comunicação (DAC), responsável pela área de Música e Sociedade e co-líder do Grupo de Estudos da Canção Popular; Ana Carolina Soliva Soria, professora do Departamento de Filosofia e coordenadora do GT Schopenhauer da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia; Fabiana Luci de Oliveira, professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e coordenadora do Núcleo de Estudos em Direito, Justiça e Sociedade; e Tatiane Cosentino Rodrigues, professora do Departamento de Teorias e Prática Pedagógicas e do Programa de Pós-Graduação em Educação e líder do grupo de pesquisa "Educação e relações étnico-raciais". 

"Acabei me inspirando em alguns memes, que são até bem divertidos, que atribuem a nós, das Ciências Humanas, o fazer das miçangas e de outros badulaques. Se ficasse por aí, talvez a gente até pudesse relevar. Mas os ataques que esse campo de conhecimento vem sofrendo não são nada divertidos. Trata-se de uma ação orquestrada, estratégica, que busca desqualificar um campo do conhecimento que tende, na maioria das vezes, a promover reflexões contra-hegemônicas", defende Mariana Pezzo.

A mesa-redonda começa às 19 horas, com término previsto para às 20h30. Mas a programação começa às 18 horas, com a apresentação da Banda Griswolds, surgida em 2011, com a releitura de temas de filmes injetando rock e outros gêneros similares, em especial o Punk Rock. A classificação indicativa do evento é livre, ou seja, é para todas as idades. E o acesso não tem obstáculos, pois para chegar ao local da mesa não há escadas. 

Evento: "Além de miçangas, o que faz o povo das ciências humanas?"
Data: 15/5/2024, quarta-feira
Local: Praça XV de Novembro, Rua 15 de Novembro, São Carlos, São Paulo
Horário: De 18 às 20h30