Notícia

Denise Britto - Publicado em 10-07-2024 10:30
Professora da UFSCar apresenta livros ao Embaixador da Rússia no Brasil
Professora apresenta seus dois livros ao Embaixador da Rússia (Foto: Acervo pessoal)
Professora apresenta seus dois livros ao Embaixador da Rússia (Foto: Acervo pessoal)

No último dia 28 de junho, a professora Marisa Bittar, do Departamento de Educação (DEd) da UFSCar foi recepcionada pelo Embaixador da Rússia no Brasil, Alexey Kazimirovitch Labetskiy, na sede da Embaixada, em Brasília (DF). A visita foi motivada pelo interesse do Embaixador em conhecer os dois livros sobre a educação soviética escritos por Bittar em parceria com Amarílio Ferreira Jr., também do DEd, que faleceu no dia 3 de abril.

Na ocasião, Bittar apresentou o livro "A educação soviética", publicado em 2021 pela EdUFSCar, que trata da política educacional adotada nas 15 Repúblicas da União Soviética após a Revolução de 1917. Em seguida, apresentou o segundo livro, "A escola da Revolução Russa", publicado em 2023 (Pedro & João Editores), que mostra a escola soviética por dentro, isto é, o seu currículo; a condição dos professores; a vida dos alunos; as atividades extraescolares; a sua rotina e a aprendizagem. A professora conta que, ao ver as fotografias publicadas no livro, o embaixador exclamou: "Isso era obrigatório!", referindo-se a uma imagem em que as crianças cantam ao som do piano tocado pela professora. "O interesse da Embaixada da Rússia foi conhecer a história dos livros com o objetivo de divulgá-los", assinala Bittar.

Os dois livros resultaram de longa pesquisa realizada nos Arquivos Especiais do Instituto de Educação da University College London (UCL), na Inglaterra, onde os autores realizaram pós-doutorado em História da Educação (2011-2012). Na sequência, os pesquisadores prosseguiram como Professores Visitantes na Instituição, onde, em 2019, concluíram as pesquisas para os dois livros. As fontes consultadas foram exclusivamente em Inglês e Russo. Além disso, Ferreira Jr. e Bittar contaram com suas próprias vivências na União Soviética, pois, quando jovens, moraram e estudaram no Instituto de Ciências Sociais de Moscou, no período de 1981 a 1984.

"O primeiro livro - 'A educação soviética' - traz uma visão mais geral e horizontal da educação, sua relação com o Estado, as reformas pelas quais passou, a relação com o Partido Comunista, sua crise no começo da década de 1980 e o fim da União Soviética. O segundo livro é centrado na escola; trata-se de uma visão vertical, aprofundada, sobre como ela funcionou por dentro", diferencia Bittar. "Um detalhe importante: ambos contam com um belo álbum fotográfico".

As duas publicações exigiram muita dedicação dos autores, pois além de a pesquisa ter sido feita em inglês e russo, o assunto em si geralmente é visto de forma preconceituosa. A professora Marisa explica: "O tema da educação soviética era praticamente desconhecido no Brasil ao passo que, em língua inglesa, já contava com importantes estudos. O nosso livro foi o primeiro em Língua Portuguesa (considerando os países falantes do nosso idioma, portanto, não só o Brasil, mas também Portugal, Angola, Moçambique etc.)".

Bittar conta que, no encontro, o Embaixador se interessou em conhecer a pesquisa que originou os dois livros e relembrou feitos positivos alcançados pela Revolução de 1917 na política educacional como: a rápida alfabetização de adultos; a escola de cultura e de trabalho; e a valorização da ciência. A professora conta que, para o embaixador, "a Rússia está melhor hoje, mas uma das heranças mais significativas da Revolução Bolchevique foi o nível alcançado pela educação e pela ciência", fato corroborado pelas pesquisas realizadas por Amarílio Ferreira Jr. e Marisa Bittar.

Educação, Ciência e Trabalho
"A escola criada pela Revolução Russa foi baseada em princípios socialistas. Era obrigatória, da creche ao final do Ensino Médio. Rigorosa, patriótica e disciplinadora. Foi uma escola de trabalho e de cultura. Formou a classe trabalhadora para as profissões necessárias à etapa de desenvolvimento das 15 Repúblicas soviéticas. Foram profissões massivas, desde professores, enfermeiros e operários fabris até especialidades em línguas estrangeiras, técnicos, cientistas e artes em geral", destaca a professora da UFSCar. "O ingresso à universidade baseava-se em rigorosos exames. A política educacional era centralizada e igual para as 15 Repúblicas existentes na União Soviética (1917-1991)".

Entre os pontos fortes dessa escola, a professora destaca o currículo científico aliado à ginástica e à cultura. "Foi uma escola construída em pouco tempo como política estratégica de Estado e apoiada firmemente pela sociedade. Uma escola totalmente ligada ao setor produtivo. Mas devemos observar também a sua dimensão ideológica, pois era difusora dos valores da Revolução de 1917, como lealdade à 'Mãe Pátria', concepção de mundo materialista e patriotismo", explica ela. "Contraditoriamente, o fator ideológico acabou gerando postura crítica ao próprio socialismo praticado pelo Estado constituindo-se em uma das razões da crise e do fim da União Soviética", analisa a professora Marisa, acrescentando: "A escola era totalmente laica, mas a religião não foi extinta pela Revolução. O cristianismo ortodoxo, um dos elementos culturais marcantes do País continuou sendo praticado no âmbito da família e das igrejas; aliás, belíssimas, e todas preservadas".

Ela destaca como essa escola elevou o País ao patamar de potência mundial após a Revolução de 1917 tendo passado por duas guerras mundiais, guerra civil e Guerra Fria. Na Segunda Guerra Mundial, a União Soviética foi o país que mais perdeu vidas, 26 milhões de pessoas. Mesmo assim, a escola de educação geral e para o trabalho foi construída para todos, da creche ao ensino secundário, em curto espaço de tempo. "Foi o primeiro País a lançar um satélite artificial ao espaço (Sputnik, 1957) e isso foi resultado do avanço da ciência e da qualidade da escola. Yuri Gagárin foi o primeiro ser humano a viajar ao espaço (1961). Esse avanço foi resultado da ciência e da escola soviética", completa a professora, que conclui: "nós devemos conhecer a história da educação de outros povos não para copiá-la, mas para compreendermos como eles enfrentaram os seus desafios educacionais e construíram os seus sistemas nacionais de escolas públicas".